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Mostrando postagens de janeiro, 2022

CRÔNICAS DE ABAETÉ DO TOCANTINS - 12

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  O IMPERADOR Sua derradeira imagem, colorizada mediante um processo eletrônico disponível em um site especializado. Rés o chão o piso elevado no pórtico, os degraus que tínhamos que subir, penitentes, para contemplar um milagre técnico, aquele que trazia à vida uma fita plástica com imagens gravadas e as fazia brilhantes em uma tela. Hipnotizados, boquiabertos víamos, em Cinemascope colorido, as extensas pradarias do velho oeste, Sierra Madre e o Grand Canyon; templos gregos e romanos; selvas africanas; estupendos exercícios de Shao-Lin. Em um preto e branco saltitante e mudo, o suplício do Cristo na Sexta-Feira da Paixão... Depois de cruzarmos a sala de acesso, passando sobre um piso de ladrilhos vermelhos antiquíssimos, adentrávamos na grande sala de projeção, ainda iluminada suavemente, a cuja penumbra nos acostumávamos devagar . Nunca víamos os detalhes toscos, claro, para não perdermos o encanto. O piso era de um cimentado liso, a tela pouco luminosa , as cadeiras duras e desc

VEM SENTAR-TE COMIGO, LÍDIA, À BEIRA DO RIO - FERNANDO PESSOA

  Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos). Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassossegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar. Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento — Este momento em que