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Mostrando postagens de setembro, 2021

CHEIRO DE DEFUNTO

  (Do livro Deolinda e outros fantasmas amazônicos ) Trafegar por aqueles caminhos enlameados rasgados no meio da floresta densa, percorrendo o que só com muito otimismo se poderia chamar de uma estrada, era o trabalho extenuante dos dois. Motorista e cobrador viajavam em um ônibus bem cuidado, limpo, com manutenção em dia e cortinas azuis nas janelas, mas estavam abandonados à própria sorte quando saiam, ainda de madrugada, para as demoradas viagens que faziam todo dia, às vezes ficando pelo meio do caminho; em outras simplesmente dormindo dentro do ônibus em alguma beira de estrada, ouvindo os seres da noite que zoavam da capoeira, porque não haveria tempo para retornar à garagem e iniciar outra jornada no dia seguinte. No inverno as coisas pioravam. Caminhos poeirentos tornavam-se uma sequência interminável de atoleiros, por onde o carro chafurdava. À noite, fatigados, ainda precisavam remover a lama que emporcalhava tudo, no interminável entrar e sair dos passageiros. Naquela tarde

CRÔNICAS DE ABAETÉ DO TOCANTINS - 8

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  O FOOTING Disse-me certa vez o Luís Solano, nosso conterrâneo conhecido como “O repórter do planalto”, indignado com o estado em que encontrou a rua Siqueira Medes durante uma reforma no Mercado Municipal, que aquilo era um ultraje a uma rua que já fora lugar de passeio para as famílias. Na ocasião achei a declaração de um certo exagero, fruto talvez do entusiasmo e do fervor abaeteense que o Luís conservou a vida toda, afinal o passeio, o “footing” das famílias, poderia ser realizado em outros lugares, talvez mais aprazíveis, como as praças centrais da cidade, próximo a sorveterias e a lugares para ver e ser visto. Para quem conhece a Siqueira Mendes de hoje, no centro da cidade, fica difícil imaginar alguém se deliciando em passear por aquela rua estreita e comercial, sem qualquer coisa mais extraordinária a lhe servir de atrativo para contemplação (exceto, talvez, o belo jardim vertical do Dr. Dirceu) ou para uma fotografia com amigos e familiares. O "footing", o passeio

A MULHER DE BRANCO

A mancha de tinta no vestido é a versão romantizada e casta da célebre história de visagem que tem por personagem principal a noiva fantasma que assombrava as ruas e escuras e silenciosas da Abaeté de antigamente. Segue abaixo outra versão, mais condizente com os fatos, conforme contavam os antigos, um deles o que capturou a noiva e a identificou. Aqui, é claro, todos os personagens e acontecimentos são produto de imaginação, sem compromisso com a realidade, rsrs. Boa leitura! ____________________________ Naquela noite Doloca inflou-se de desejo. A messalina do Tocantins deitara cedo, nua como de costume, e ficara na rede ouvindo o rádio enquanto sorvia da sensualidade calma daquele doce embalar . Era uma noite fria e silenciosa. Alguém com seus hormônios em ordem certamente desejaria o repouso, o silêncio, mas aquele turbilhão encarnado desejou a devassidão: Doloca decidiu que seduziria o Rosivaldo. Professor, o alvo da devassa naquela noite lecionava no Basílio. Dava aulas de desenh