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Mostrando postagens de maio, 2021

CRÔNICAS DE ABAETÉ DO TOCANTINS - 5

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  A POSSE DO PREFEITO Um momento de inflexão, daqueles que ficam marcados para sempre em uma vida, na vida de uma comunidade, uma cidade, um povo. A posse do prefeito Hildo Carvalho em 1967. Foi na prefeitura velha, um prédio antigo e visagento que ele botaria abaixo logo em seguida, construindo a nova prefeitura, essa que está no mesmo lugar até hoje e parece, ela mesma, hoje acanhada e antiquada, com sua arquitetura datada testemunhando um tempo em que havia dezenas de datilógrafas e office-boys em ação. Olhando o lugar da posse fico imaginando como parece ter sido simples e despretensioso o viver na Abaeté daqueles tempos. Não houve, nesse dia, aluguel de palcos, luzes e telões ou queima de fogos coloridos. Talvez tenha acontecido uma salva de foguetes e a apresentação da Banda Carlos Gomes, tocando hinos e dobrados na praça em frente. Nada d

Aos que virão depois de nós - Bertold Brecht

I Eu vivo em tempos sombrios. Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez, Uma testa sem rugas é sinal de indiferença. Aquele que ainda ri é porque ainda não recebeu a terrível notícia. Que tempos são esses, Quando falar sobre flores é quase um crime. Pois significa silenciar sobre tanta injustiça? Aquele que cruza tranquilamente a rua Já está então inacessível aos amigos Que se encontram necessitados? É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver. Mas acreditem: é por acaso. Nada do que eu faço Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome. Por acaso estou sendo poupado. (Se a minha sorte me deixa estou perdido!) Dizem-me: come e bebe! Fica feliz por teres o que tens! Mas como é que posso comer e beber, Se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome? Se o copo de água que eu bebo, faz falta a quem tem sede? Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo. Eu queria ser um sábio. Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria: Manter-se afastado dos problemas do mundo E se

O mata-porca

  Esperavam o mingau da janta, sentados em silêncio ao redor da enorme mesa onde os trabalhadores se reuniam à boca da noite. Na cabeceira seu Luís Nobre, o dono do engenho. Era um crepúsculo fresco e acolhedor . Pelas janelas amplas, por onde se podia vislumbrar o poderoso Tocantins rugindo em direção ao Amazonas, soprava uma cálida brisa do Marajó, naquele começo de noite um pouco mais intensa e fria. Dona Jovita entrou na sala grande perto da cozinha justamente quando soaram os primeiros acordes de "O Guarani", vindos do Semp de gabinete de madeira escura ligado a uma grande antena esticada entre dois açaizeiros. Pilhas novas o faziam falar bem alto. - Em Brasília, dezenove horas! - disse a voz solene pelo rádio. E os acordes prosseguiram, com os locutores da Voz do Brasil apresentando as principais notícias do dia. A cozinheira carregava o panelão fumegante e aromático, segurando as alças com a barra do avental. Foi até o centro da mesa e lá arriou sua carga com