A última sessão de cinema
Aquela era a última noite da família na cidade. Carmem terminava de arrumar os livros da imensa biblioteca do avô dentro de caixas de cedro para o transporte até a nova casa, na capital. Todos eram mobilizados, dividindo as tarefas que envolviam desmontar móveis e transportá-los até o vapor atracado no que restara do porto velho da cidade, encaixotar livros, roupas e o conteúdo da cristaleira da sala - envolvendo cada peça de porcelana em camadas e camadas de jornais velhos. O grande lustre de cristal faiscante foi baixado do centro da sala e cuidadosamente desmontado, indo parar dentro de um caixote exclusivo. Cortinas eram removidas e dobradas para serem embaladas junto a centros de mesa bordados e sóbrias toalhas de linho e renda. Aproximava-se as oito horas e serviriam o último jantar naquela casa, assim mesmo, por sobre caixotes e engradados; as crianças comendo deitadas de peito sobre o chão polido de tábua corrida cheirando a cera de carnaúba e gasolina. Quand