NOTURNO SOBRE A CIDADE VELHA
Padre Benedito foi meu diretor quando lecionei no Carmo. Tinha veia de escritor, poeta, artista. Escreveu este poema extraordinário sobre o sentimento que temos ao contemplar a degeneração do antigo centro histórico. Puxada violenta, escancarada e ao mesmo tempo cheia de símbolos nas cordas profundas do coração e da alma. Um noturno tão harmônico e melancólico quanto uma peça triste de piano. NOTURNO SOBRE A CIDADE VELHA José Benedito Araújo de Castro Musgo envelhecendo nas dobras das rugas das almas das beatas acorrentadas em terços. Telhas podres contemplam sinos sem apelos. Igrejas em pedras tradicionalistas guardam santos. Sinos chamam pra missas vazias. Missas vazias chamando a juventude. Jovens chamando missas vivas. E o bispo, em paramentos de bronze, prega para as estrelas: Sermão de ontem é inútil no púlpito dos corações de hoje. Praça do Carmo e casarões com face de lojas de comércio