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Mostrando postagens de junho, 2021

NOTURNO SOBRE A CIDADE VELHA

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  Padre Benedito foi meu diretor quando lecionei no Carmo. Tinha veia de escritor, poeta, artista. Escreveu este poema extraordinário sobre o sentimento que temos ao contemplar a degeneração do antigo centro histórico. Puxada violenta, escancarada e ao mesmo tempo cheia de símbolos nas cordas profundas do coração e da alma. Um noturno tão harmônico e melancólico quanto uma peça triste de piano.   NOTURNO SOBRE A CIDADE VELHA José Benedito Araújo de Castro Musgo envelhecendo nas dobras das rugas das almas das beatas acorrentadas em terços. Telhas podres contemplam sinos sem apelos. Igrejas em pedras tradicionalistas guardam santos. Sinos chamam pra missas vazias. Missas vazias chamando a juventude. Jovens chamando missas vivas. E o bispo, em paramentos de bronze, prega para as estrelas: Sermão de ontem é inútil no púlpito dos corações de hoje. Praça do Carmo e casarões com face de lojas de comércio

CRÔNICAS DE ABAETÉ DO TOCANTINS - 6

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  AUTORRETRATO Foi muito antes da invenção da selfie , palavra que, aliás, deriva de “self portrait” significando exatamente... autorretrato! Era comum que fotógrafos fizessem, em algum momento, o seu autorretrato , colocando na imagem algumas marcas de sua personalidade, profissão, angústias existenciais... Entre pintores de todas as épocas, o exercício do autorretrato era muitas vezes uma psicanálise, um mergulho nas profundezas obscuras da alma a partir das luzes da realidade. Augusto Malta, o fotógrafo do Rio antigo, em seu autorretrato , usa o laço das belas-artes no pescoço, considerando-se não um mero manipulador de máquinas e químicos, mas um praticante da nascente arte que mudaria o mundo. Foi assim com o nosso mais ilustre “retratista”, senhor Dico Sousa, fotógrafo, violonista, seresteiro e boêmio. Não conheci muito Dico Sousa. Lembro que ao receber pelo correio a minha primeira câmara, uma Tuka , câmara de plástico que usava filme 127 em rolo para 24 fotos,