OBRIGADO, POR MIL VISUALIZAÇÕES!

 Hoje este blog literário ultrapassou a marca das mil visualizações.

Para um blog que não propaga o ódio, as mentiras, nem zomba da inteligência alheia, é de espantar. Pode não ser nada, perto de certos vídeos curtos que recebem em um dia mais de dois milhões de visualizações, mas para mim representa uma marca memorável. Tendo conteúdo que não gera "engajamento" com facilidade (não lida com perversidades, por exemplo) é bom notar que este blog vem sendo regularmente visitado. Isso dá esperança, faz crer que ainda é possível contar histórias que nos transportem para uma universo fantástico, cheio de possibilidades, que nos fazem pensar fazendo cócegas na inteligência, como já foi dito. Obrigado, meus amigos e amigas, por essa esperança.

É como se meus livros fossem tocados mil vezes em um esforço de leitura que constitui a essência da relação entre o autor e o leitor. Certa vez escrevi uma história em que um escritor terminava seu livro, imprimia uma única cópia, e a enviava para um leitor desconhecido, aleatoriamente. Fazer um blog como este é mais ou menos isso. É postar textos na grande rede sem se preocupar com um "nicho de mercado", sem um "público alvo" determinado por um algoritmo. Confiando apenas que ainda existe o desejo de exercitar a imaginação, viajar por universos estranhos e misteriosos. Simplesmente contar histórias, ler histórias, e conhecer o universo com elas.

Certa vez, viajando de ônibus, ia absorto em direção ao meu destino quando duas jovenzinhas deram sinal ao motorista, pedindo para descer. Quando as duas caminharam pelo corredor do veículo, percebi que uma delas levava um exemplar do meu Histórias de Visagens. Que espanto! Então ela fazia questão de levar consigo o livro, talvez para lê-lo espontaneamente, talvez para fazer um trabalho de escola, não importa... Nunca as havia visto. Jamais voltei a vê-las. Vestiam o traje da simplicidade, carregavam pequenas sacolas, tinham a aparência mestiça e interiorana muito comum na Amazônia. Fui tomado de enlevo.

Sim, meus livros eram lidos por desconhecidos, por jovens que deixavam seus folguedos e arrulhos juvenis para lerem aquelas histórias... Foi uma experiência marcante para mim, que me fez continuar neste ofício solitário e silencioso, mas tão gratificante!

Agradeço a vocês, meus leitores, que pousaram os olhos nestes textos, usando um pouco do seu tempo para ler estas histórias. Espero compartilhar experiências, emoções, lembranças, esperanças, o sentimento do mundo, este grande professor de todos nós...

Pensei em escrever um texto para festejar, mas acho que um que já li, a Introdução do Terra dos Homens, o meu preferido de Saint-Exupéry, pode expressar muito bem o que significa este momento para mim. Eu o reproduzo abaixo.

Boa leitura.

Obrigado.



INTRODUÇÃO


Mais coisas sobre nós mesmos nos en­sina a terra que todos os li­vros. Porque nos ofe­rece re­sis­tência. Ao se medir com um obs­tá­culo o homem aprende a se co­nhecer; para su­perá-lo, en­tre­tanto, ele pre­cisa de fer­ra­mentas. Uma plaina, uma charrua. O cam­ponês, em sua la­buta, vai ar­ran­cando len­ta­mente al­guns se­gredos à na­tu­reza; e a ver­dade que ele obtém é uni­versal.
    Assim o avião, fer­ra­menta das li­nhas aé­reas, en­volve o homem em todos os ve­lhos pro­blemas.
    Trago sempre nos olhos a imagem de minha pri­meira noite de voo, na Ar­gen­tina, uma noite es­cura onde apenas cin­ti­lavam, como es­trelas, pe­quenas luzes per­didas na pla­nície.
    Cada uma dessas luzes mar­cava, no oceano da es­cu­ridão, o mi­lagre de uma cons­ci­ência. Sob aquele teto al­guém lia, ou me­di­tava, ou fazia con­fi­dên­cias. Na­quela outra casa al­guém son­dava o es­paço ou se con­sumia em cál­culos sobre a ne­bu­losa de An­drô­meda.
    Mais além seria, talvez, a hora do amor. De longe em longe bri­lhavam esses fogos no campo, como que pe­dindo sus­tento. Até os mais dis­cretos: o do poeta. o do pro­fessor, o do car­pin­teiro. Mas entre essas es­trelas vivas, tantas ja­nelas fe­chadas, tantas es­trelas ex­tintas, tantos ho­mens ador­me­cidos...
    É pre­ciso a gente tentar se reunir. É pre­ciso a gente fazer um es­forço para se co­mu­nicar com al­gumas dessas luzes que bri­lham, de longe em longe, ao longo da pla­nura.

Antoine de Saint-Exupéry

(Terra dos Homens

Rio de Janeiro, José Olympio, 1982)







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