CRÔNICAS DE ABAETÉ DO TOCANTINS - 13

 O GRUPO VELHO DE ABAETÉ

Voltemos quase um século. Retrocedamos a esta imagem, dos anos 30 do século passado, bem no centro da velha Abaeté. O que hoje se chama de Canto do BASA.








Foi em um lugar tranquilo como este, que um pouco antes, logo após a virada do século 19 para o 20, foi fundado o grupo escolar de Abaeté.








O Grupo escolar, chamado pelos antigos de Grupo Velho de Abaeté, fundado em 1902, aqui aparece retratado em 1908 a mando do governo do Pará. Esse foi um dia especial, um fato incomum na rotina sonolenta daqueles velhos tempos. Claro. A chegada de um retratista em Abaeté era um acontecimento. Todos teriam sido avisados de véspera que o retratista iria fazer a foto. Então, vestiram as melhores roupas, os ternos e os chapéus das ocasiões especiais. Até a organização de todos diante da câmara foi cuidadosamente pensada. As meninas no andar de cima. Embaixo os garotos perfilados e vigiados por um homem de cartola que aparece sinistramente à direita, no fim da fila, como deveriam parecer sinistros para os garotos todos os bedéis, de todos os tempos. Na principal janela da escola, a de cima, à esquerda, logo depois da esquina, duas jovens de longo e um homem de terno; talvez o professor Bernardino em pessoa, o primeiro diretor na longa história dessa escola centenária.









Nesta imagem o Grupo velho de abaeté, já agora batizado Grupo Escolar Professor Basílio de Carvalho aparece no seu endereço atual, na esquina para onde foi transferido no final dos anos 40 uma vez que o prédio do grupo velho já era muito pequeno. Era preciso um local novo, maior, para o funcionamento da escola. Era, no entanto, ainda um menininho, com somente um piso, mas era onde estudava a dita “elite” do município, onde estudavam os filhos dos donos de engenho, dos comerciantes importantes e de funcionários públicos graduados. Sua direção foi ocupada por pessoas que hoje pertencem à história da educação em Abaetetuba, como o Professor Bernardino Pereira de Barros, Profa. Esmerina Bou-Habib, Profa. Elza Paes e o conhecido Professor Onofre Carneiro.









Nos anos 80, já crescido, dois pisos, o Basílio brilhava na tarde ensolarada. A placa anunciava que o trabalho era a reforma da escola, mais uma das inúmeras, sempre necessárias num prédio tão antigo que precisa estar conectado às transformações do seu tempo. Mesmo que o tempo corresponda à extensão de um século.

Mas o encanto do grupo velho de Abaeté persiste. Ficava ali, na esquina da Pedro Rodrigues com a Siqueira Mendes, onde anos depois foi a coletoria de impostos do estado e a delegacia de polícia e onde hoje existem órgãos do governo do Estado. Ficava na mesma rua da Intendência e talvez do paço municipal, de onde se governava Abaeté, fosse possível ouvir os sussurros das lições ou o recitar dos pontos de geografia, latim, história universal ou ainda o ressoar de um canto orfeônico. Naquela cidade silenciosa e tranquila de um século atrás, ao passar diante daquelas enormes janelas, o pedestre poderia talvez ouvir a voz impostada da professora recitando um poema de Castro Alves. Poderia chegar a ele, talvez, um trecho dos Lusíadas junto com o perfume da professora e com o inconfundível cheiro de estudante, de sala de aula, aquela celestial mistura de sabedoria passada, energia presente e aposta no futuro; a razão de sermos ainda todos educadores e confiarmos, mesmo nestes tempos terríveis de crise e de tragédia, que o homem de bem sobreviverá. A civilização, apesar de tudo, sobreviverá à barbárie enquanto existirem professoras, crianças, escolas, poetas e fotógrafos como os de antigamente.

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